"Não acredito mais na distância entre nós"
Eu acho que não pisava numa Igreja há mais de um ano. E acho que não pisava numa Igreja com as intenções de hoje à noite há mais de seis anos. A placa "Igreja da Imaculada Conceição" me atraiu de alguma forma e eu fui para lá atrás de alguma missa, de algum padre e, até, de uma confissão. Não consegui nada disso, estavam apenas uns coroas reunidos para uma discussão e louvação da Bíblia. Resolvi me juntar a eles.
Bem, como eu não ando com uma Bíblia por aí, um gordinho muito simpático me emprestou a dele. E eu fiquei lá, cantando uns Salmos e lendo alguns versículos diversos. As pessoas fechavam os olhos, levantavam as mãos, tremiam os braços. Enfim, as pessoas se emocionavam. Emoções não são exatamente meu forte, mas confesso que em alguns instantes a Bíblia pesou e meu braço fraquejou.
Saí da Igreja depois de uma hora, escondido, quando todos viraram para o altar. Deixei a Bíblia do gordinho em cima do banco e nem tive tempo para agradecer. Faltou coragem para ficar até o fim e encarar aquelas pessoas me perguntando quem eu era e o que fazia lá.
A inspiração dos católicos, e eu já fui um, é atribuída ao Espírito Santo, um dos membros da Santíssima Trindade. Falou-se muito nele hoje, lá na Igreja. Aí eu fiquei pensando quais eram minhas inspirações, para escrever, trabalhar, viver. E se tem uma coisa que eu acredito é no amor de Deus, mesmo não acreditando exatamente no amor. Portanto, uma das minhas inspirações é o amor divino, que é diferente do amor por Deus - pelo menos diferente do amor daquelas pessoas cantando e se emocionando na Imaculada Conceição.
Sem entender bem a razão, descobri também que outras de minhas inspirações são a tristeza e o álcool. E estas coisas não podem conviver juntas, tristeza e álcool formam uma combinação perigosa, sabe? É inspiração demais e nada demais é bom.
De tudo isso, do meu tempo pensando na Igreja, eu decidi largar o álcool enquanto restar a tristeza. E isto pode durar muito tempo.
Favor não insistir.