terça-feira, novembro 18, 2003

Abre parênteses.

Para se falar do rock, mesmo que o foco seja o seu espírito contestador, há que se considerar o fato de que ele sempre esteve ligado à indústria fonográfica. Elvis, Beatles, Dylan, Gil e Clash não foram apenas artistas capazes de criar músicas notórias, eles foram também produtos que geraram retornos satisfatórios para as suas gravadoras e empresários. A questão de que talvez seja o rock uma contracultura de massa passa por esta constatação – os artistas que mais impacto tiveram sobre a sociedade com a sua música e suas atitudes também foram os artistas que melhor retornaram os investimentos feitos pela indústria cultural no desenvolvimento de um produto (o rock), pois ela, a indústria, é o canal de comunicação entre mensagem e receptor.

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Uma das características da personalidade jovem do rock é a sua inserção no universo da cultura pop. É daí que temos o seu dinamismo, pois, enquanto produto cultural ele precisou de algum grau de adaptação às diversas gerações de consumidores e seus diferentes desejos. A diferença entre o franzino Buddy Holly e o satânico Marilyn Manson é menos musical do que comercial. A música de ambos deriva da mesma fonte; o rock e suas raízes no blues negro. Mesmo a mensagem de suas músicas, ainda que num primeiro momento sejamos levados a pensar o contrário, são semelhantes pois são dirigidas a um público bastante próximo entre si, a classe média jovem interessada em música. Do rapazola que pedia o carro emprestado ao pai para levar a garota que sentava do outro lado da sala de aula ao cinema até o jovem que espera noite adentro conectado à Internet que a menina com quem trocou e-mails numa sala de bate-papo virtual reapareça na tela digital o tempo só veio a acrescentar aos últimos mais informação, tatuagens e piercings. A diferenciação entre os artistas nasce em duas fontes principais: a maneira como o artista irá interpretar o rock (a sua subjetividade) e a forma como ele irá transformar sua interpretação em música (a sua objetividade). Portanto, ainda que Buddy Holly possa ter tido um gosto musical bastante semelhante ao de Marilyn Manson, a catálise que ambos fizeram para transformar suas subjetividades em objetividades foi certamente diferente, no que resultou em músicas que atingiram públicos semelhantes de formas dissonantes. A indústria cultural se interessa pela objetividade dos músicos e busca adaptá-la dentro de seus preceitos para alcançar o seu objetivo: máximo consumo.

Caralho, a minha monografia está ficando um tesão.

Fecha parênteses.