quinta-feira, maio 22, 2003

André e o Sexo ou O que há de tão bom na Rocinha?

Ontem eu não bebi. E nesses dias fico extremamente reflexivo. Hoje eu também ainda não bebi e continuo reflexivo. E é uma merda ficar reflexivo nos dias em que não se tem nada para fazer - lembrando que odeio falar ao telefone.

Minhas reflexões rondaram basicamente dois temas: a comunidade da Rocinha, motivado por Cidade Partida, livrinho do Zuenir Ventura que tem ocupado alguns instantes de meus dias; e o filme Lúcia e o Sexo, motivado pela recordação dos escritos de um amigo surdo, melhor escritor que eu conheço apesar de abusar muito de figuras de linguagem.

Afirmo, sem que minhas intenções pareçam ser hipocritamente passar por bom moço, que a Rocinha é dos lugares mais fascinantes que já visitei. Talvez perca apenas para Nova Iorque, por sua diversidade, e para Salvador, por seus moradores. Talvez não. O charme de Nova Iorque é ter culturas e pessoas de todos os tipos, inclusive baianos, convivendo harmoniosamente num mesmo local. Já Salvador é o contrário. Seu charme é ter praticamente uma cultura só, riquíssima e apaixonante. E o povo, os baianos, é acolhedor, amigável e sorridente. Enfim, são maravilhosos esses baianos.

A Rocinha pode ser considerada uma mistura dessas coisas. Lá, numa cidade vertical usualmente chamada de favela (termo que, infelizmente, com os anos adquiriu uma conotação negativa), pessoas tão diferentes convivem tão próximas. Não há regiões ricas ou pobres definidas. Não há bairro para italianos, rua para brasileiros ou gueto para negros. Nada de chinatowns na Rocinha - e o coreano da pastelaria mora ao lado do evangélico, do gay e do traficante. Aquilo sim é diversidade. Um lugar onde encontramos de tudo e de todos pelas ruas, sem preconceito. E lá, na Rocinha, também há baianos e baianices aos montes.

Até mesmo eu, um playboy mané e marrento, sou aceito na Rocinha. E olha que eu nunca deixei dinheiro para o comércio local.

Sobre Lúcia e o Sexo, eu nunca tive uma Lúcia e, ultimamente, não tenho nem tido muito sexo. Aí eu pego um suplemento da Folha de São Paulo, um tal de Folha Equilíbrio, e na capa leio:

"O sexo dos mais velhos - O prazer não muda com a idade, só o corpo, o que exige dos amantes novas técnicas"

Meu Deus! Em Lúcia e o Sexo, filminho espanhol bacanérrimo, esse, o sexo, nada mais é do que uma extensão de Lúcia. Não se trata de técnicas de sexo, trata-se de prazer, de curtir o momento da melhor forma possível. Trata-se de aproveitar a vida: com romance, paixão, amor, ódio e, claro, sexo. No filme o sexo não existe sem a Lúcia e, naturalmente, ela não existe sem o sexo. Técnicas? Prazer, amor e paixão deveriam suprir a necessidade de qualquer técnica.

E assim somos todos nós, mesmo sem entendermos. Eu, por exemplo, depois de ficar sóbrio refletindo por alguns dias, decidi não trepar mais até que meu corpo entenda que eu sou o sexo. Eu sou o sexo!