segunda-feira, abril 07, 2003

Às vezes nos vemos encurralados e culpamos a vida, dizendo que ela nos pregou uma peça. Há momentos em que a insegurança de tomar uma difícil decisão faz com que adiemos nossos inevitáveis avanços.

Em 2013 eu teria 34 anos. Poderia ser um bom jornalista, até com algum destaque e prestígio. Teria um bom emprego, um belo carro do ano e um confortável lar. Conseguiria juntar uma grana e anualmente poderia viajar. Meus amigos, os mesmos de anos, continuariam ao meu lado. E eu teria uma família.

Minha filha, uma graça, chamada Ana Carolina, teria quatro anos e já estaria dando os primeiros passos no jardim. Ela seria fofinha, bochechuda e sorridente. Ela adoraria sorvete, cachorros e diria papai com intenso prazer. Ela teria medo de meu papagaio, já velhinho coitado. Carol também gostaria muito de passear e brincar no parque. Seus avós, meus pais, a levariam todos os dias à escola e eu, voltando do trabalho, a traria de volta para casa.

Minha esposa seria adorável. Uma verdadeira companheira que sempre me apoiaria nos momentos difíceis. Eu a amaria e esse amor seria recíproco. Faríamos amor com invejável frequência e nossa paixão sempre se manteria forte. Às vezes brigaríamos, mas seria impossível, para qualquer um de nós, sequer imaginar a possibilidade de ficarmos afastados.

Mas, em vez de tudo isso, em 2013 eu também poderia estar sozinho, morando em Lhasa, no Tibete. E como seria bacana ficar enrolando com a ponta dos dedos minha longa barba!

Infelizmente, como bem sabem meus amigos, eu não viverei até 2013.