terça-feira, abril 08, 2003

Histórias de um 16 de março (I)

E daí que crescemos e o mundo aparentemente encolheu? Descobrimos felizmente que nem tudo é tão grandioso assim. E daí?

Raul tinha 40 anos, uma esposa, duas filhas lindas e um belo emprego de quinze anos. Um dia, sem mais nem menos, Raul foi despedido. Contenção de despesas, justificaram cinicamente. Ele saiu do trabalho arrasado e só pensava na melhor forma de contar para sua família. Foi então para um bar - afogaria as mágoas e tomaria coragem - e encontrou com amigos. Falaram de futebol, mulheres e trabalho. Todo grupo de amigos sentados num bar invariavelmente acaba falando de trabalho. E todo aquele amigo que não tem um bom trabalho ou que não tem nenhum acaba se deprimindo pelo sucesso dos outros. Não se trata de inveja.

No bar, Raul calou-se quanto à demissão. Quatro horas depois, sua esposa já bastante preocupada, um policial ligou e avisou que Raul havia parado o carro na Linha Vermelha e se jogado na Avenida Brasil.

Júlio tinha 27 anos, estudava direito e se descobrira portador de HIV já há 3 anos. Ele achava que tinha sido contaminado pelo uso de uma seringa numa festa na casa de amigos. Na verdade, Júlio fora contaminado por uma ex-namorada que o havia traído e ele nunca descobrira.

Numa festa na casa de amigos, Júlio conheceu Adriana, uma bela loira frequentadora do posto 9 em Ipanema. Os dois conversaram, foram ao cinema, jantaram juntos e se apaixonaram. Namoraram e só dois meses depois Júlio teve coragem de contar a Adriana sobre o vírus. Ela não segurou a barra e o abandonou. Por favor, não a condenem simplesmente - nem Júlio foi tão cruel com Adriana. Mas ele foi cruel consigo mesmo, não aguentou a decepção e se enforcou na sala de seu apê. Foi a vizinha, uma coroa de 80 anos, que sentiu o cheiro e avisou à polícia.