domingo, fevereiro 09, 2003

Yemanjá

Domingo pela manhã, 09 de fevereiro, vou a Sepetiba - lugar distante, isolado, sujo e quente, onde dizem haver uma praia - para filmar um cortejo em homenagem a Yemanjá.

Como curiosidade, o material gravado será usado para um projeto de um programa de cultura afro-brasileira que tem tomado meus fins-de-semana.

Ainda como curiosidade, Yemanjá é um orixá. No sincretismo com o catolicismo, ela seria Nossa Senhora da Conceição. Sua saudação é ODOIYÁ, suas cores são rosa e azul-claro, seu domínio é o mar e seu animal litúrgico é a cabra. O dia de Yemanjá de verdade é 02 de fevereiro.

A gravação foi bacana, tudo correu bem, colhi boas imagens, passei ao lado da comunidade onde foi gravado os anos 60 do filme Cidade de Deus e ninguém incorporou nenhum santo perto de mim.

Mas houve um fato curioso. Estava tranquilamente apreciando uma barraquinha vendendo blusas com as imagens de orixás, quando uma blusa despenca do cabide bem aos meus pés. A vendedora, a caráter vestida de baiana, pega a blusa no chão e revela uma imagem de Exú, o mais terreno dos orixás, muitas vezes associado erronemente ao capeta, tinhoso, belzebu, filhote de cruz-credo. Enfim, ao diabo. A falsa baiana levanta-se, olha para mim, dá um passo para trás, arregala os olhos cansados e pergunta com toda seriedade e propriedade:

- Você tem algum trato?

Respondo automatica e naturalmente "que eu saiba não". A baiana não fala mais nada e recoloca a blusa no seu devido lugar.

Definitivamente eu tenho que parar de andar nesses ambientes.